Estive nesses dias entregue de corpo, alma e mente à tarefa de encontrar uma escola para minha filha. Ela já está em uma escola. Há três anos freqüenta a educação infantil. Agora, estou em busca da escola que ela prosseguirá sua vida de estudante. Eu sempre tive algumas certezas sobre como um espaço educacional deveria" ser" e muitas certezas do que ele "não poderia ser" . Influenciada pela minha vivência e meus ideais, também estabeleci alguns critérios com certa dose de excelência para realizar essa escolha, porém já dei jeito de me livrar deles porque conclui: não passam de ficção científico-pedagógica criada pela minha imaginação idealista! O que mais encontro é justamente aquilo que não poderia ser! Por causa desse "desencontro" acabei fazendo algumas reflexões, na verdade, algumas meditações e muitas orações...enfim, eu pedi socorro ao cosmos! Eu preciso encontrar um colégio e eu conheço colégios. Fiz parte deles e eles de mim, como estudante e como profissional. Então, sei um pouco do que falo. Encontro um vazio absoluto. Vazio é bom em alguns casos, mas não no caso da escola. Não há tendências, nem tradição. É um vazio, mesmo! Apesar de ter feito parte de colégios é a primeira vez que os encaro como mãe. Entretanto, minha entrevista inaugural, não me parece desconhecida. Sei exatamente o que será divulgado nela e como posso desequilibrar o enredo com algumas perguntinhas, para daí conferir o estado de humor , conhecimento e principalmente, o quanto há de legítimo, no que está sendo apresentado como o "estilo político pedagógico daquele contexto escolar". As reações foram as mais diversas. Tem o tipo que reage com nuances de simpatia, pra desviar o assunto e sensibilizar você com a falsa promessa do início de uma possível amizade e,imediatamente, lhe oferece um cafézinho. Depois, prossegue na besta tentativa de convencê-lo de que escola é uma grande família. A dela é. Ela só pode ser parente do diretor!Tem o tipo que se revolta com suas perguntas e com a previsão de que você poderá ser uma ameaça à " figuração " que há tanto tempo desempenha naquele espaço escolar. Essa, passa a usar como forma de mandar você embora o mais rápido possível e pra sempre, a palavra "depende" como resposta a todas as próximas perguntas que fizer e para as que pensou em fazer, mas que não vai mais, porque já vai embora. Pra que gastar tempo? A praia não é essa! Também tem a que desenvolve a tese de um doutorado, que não é da própria autoria e deixa isso bem claro, já que confere todos os créditos citando os nomes de bilhardares de autores. Uma vez e na outra vez também, mistura o nome dos autores, o sobrenome de um com o nome do outro. Mas, o que de fato impressiona e irrita, nesse perfil, é que apesar de tanto conhecimento acadêmico, não consegue apresentar um exemplo concreto de produção escolar, como uma amostra, mesmo que singela, da prática a que seu discurso se refere. Começo a pensar que deve ter ficado tanto tempo lendo e estudando que não teve tempo de "ler pra conhecer" o espaço real no qual a escola de fato existe: a sala de aula. Esse é o tipo que confabula como uma caturrita doida e irritante, às vezes sozinha tagarelando pras paredes, outras vezes atormentando com o discurso performático e intimidador os professores.Como essa não se cala nunca, não faria isso na minha vez, e justamente na minha vez, o discurso tem o plus dos perdigotos. Teve um dependurado no meu cílio, mas esse detalhe não a intimidou. E, por fim, o mais lamentável dos casos, aquilo que destrói mesmo a escola, destrói a função do professor e destrói a minha esperança é a dona do discurso que tenta dizer aquilo que ela pressupõe, você queira ouvir. Idealiza! Você sendo entrevistada por uma visionária! Uma coisa são propostas que simplesmente você não concorda, não aprova e pode dizer: não quero, obrigada! Simples. Só não fazer a matrícula. E viva a pluralidade de opiniões! Outra coisa é a tentativa de enganar você, apresentando algo que "nom ecxiste nem nunca ecsistirá". Eu marco as entrevistas em escolas pessoalmente e faço isso sempre na hora do intervalo escolar. O clima de um recreio dá muitas dicas sobre a cultura do lugar. Dar uma chegadinha em alguns espaços da escola é fundamental para a escolha. Procuro saber se conheço alguém que tenha filhos no local e faço perguntas. E, caso conheça alguma professora, o que não é raro, faço a festa e tenho revelada a essência local! São as professoras que conhecem a cultura escolar como ninguém. Elas sabem dos estudantes, dos colegas professores, da coordenação, dos pais, enfim, sabem da gestão...sabem dos enganos e são as que sofrem sempre com todos eles. E as inteligentes, sabem lhe informar sobre essa rede complexa, respeitando os limites éticos. São éticas, mas nunca neutras. Diferente do que dizem por aí, não são os professores os que potencializam a decadência educacional, muito antes pelo contrário, são justamente os que representam os pilares pra que a "casa não caia" de uma vez. Como em toda regra tem exceções, alguns representantes são a decadência em carne e osso. Calma! São bem fáceis de identificar. 1) podem ter a estabilidade profissional; 2) O colégio não tem grana pra mandá-los embora; 3) ela viu quem é o chefe e sabe o que ele fez! Eu comentava sobre o falso discurso, linhas acima, e lembrei... Numa das minhas investidas, soube que um mesmo profissional, de uma determinada instituição privada, lançou uma conversa sobre estilos pedagógicos pra "muá" e outra conversa, ligeiramente antagônica, pra uma amiga que lá esteve também. Lamentável! Ainda preciso comentar, sobre as escolas famosas, nas quais marquei e desmarquei entrevistas e que dali por diante, não param de me ligar. Praticamente imploram para que eu vá lá fazer a entrevista de matrícula. E ainda explicam: " estamos com uma lista de esperas , mas demos preferência a você". Lógico! Preferem a mim, isso é perfeitamente compreensível. Engana-me, que eu adoro! Pior, é que são famosas mesmo! Daquelas que se valem da tradição. Fiquei pensando se é por isso, por essa chata insistência, que alguns pais fazem a matrícula de seus filhos. De duas uma:ou é estratégico, esse lance das ligações, porque fazem o carente que recebe a ligação se sentir desejado ou, estão pegando aluno como refén. Você chega pra fazer a entrevista e eles já trancam seu filho numa sala. O resgate? A matrícula! Apesar da dificuldade, encontrei a escola. Pareceu quase perfeita e muito verdadeira. Educação formal tem conteúdo sim, não aqueles ou somente aqueles de muitos anos atrás, tem outros importantes pra saber hoje. Fatos recentes. E além deles, dos fatos recentes, que contextualizam e dão sentido ao movimento do mundo, ainda tem espaço, muitos espaços, para vivências, as reais, não somente as dramatizadas nas festas pra família. Aprender com prazer. Aprender a fazer acompanhado, inicialmente, pra mais tarde, mesmo quando não estiver sob vigília, fazer acontecer a sua ação de aprender sozinho mas, ainda assim, reconhecendo-se em relação com todos e tudo. Tantos são os aprenderes e tantos são os espaços para que se disparem. Não é só na escola - ingenuidade ou onipotência quem acredita que somente lá, se aprende - mas fundamentalmente nela, sem dúvida, que se consagra a satisfação de elaborar aprendizagens, ou ao contrário disso, é nela que se descobre a política dos chimpanzés que é a mesma política da conveniência. Os que apreenderem este modelo escolar, precisarão pra sempre da vigília e correm o risco de nunca descobrirem do que seriam capazes acompanhados somente de si mesmos!
2 comentários:
Eu posso te indicar varias escolas boas em Porto Alegre. Acho que essa crise dos 40 eh real. Mas, tu ja esta com 40? Nao eh possivel. Eu te juro que te dava uns 30 ainda. :)
São por coisas deste tipo que eu te acho MARAVILHOSA !!!!!
Adorei a crônica (sim, isto é uma crônica, e das boas!!!) falando sobre a Barbie.
Querida amiga, tu és muuuuiiito especial: inteligente, criativa, culta, e o melhor, Mulher com "M" maiúsculo.
Pensa em escrever um livro! Teus argumentos, tuas descrições, teu humor ao escrever é ótimo!
Beijos e muita saudade!!! Criss.
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