Debaixo da água quente do chuveiro – ela prefere a água bem quente, pelo puro prazer de acreditar no seu poder de criar nuvens com o vapor do banho – fecha os olhos pra entender se aquelas sensações são reais ou meros devaneios. Sente coisas estranhas, desde a Páscoa, e o que sente, nem combina com o que a data sugere a não ser pelo detalhe da vida nova. Disso ela tinha certeza, a possibilidade da vida era o que disparava seu sorriso como num sinal de aprovação e como se a vontade do sorriso bastasse pra justificar tudo, ainda que não entendesse nada, ela prosseguia o seu banho quente.
Vida, sim! Mesmo que em outro nível de realidade.
Por uns instantes, desocupava as mãos, pra contemplar suas linhas, querendo ler a história na parte em que essa ainda não tinha sido criada, lhe interessava saber o porquê do que acontecia. Ela esperava isso, da quiromancia, mais que o futuro a confirmação do passado ou do que passa, exatamente agora. Pra saber se é verdade, isso que sente e se estava escrito na palma da mão, como se pudesse acreditar que nesta, cabe toda as possibilidades do destino.
A verdade é que ele provoca sorrisos, liberta vontades vorazes, dispara seus delírios, desejos vulgares e ideias do ela que faria, se pudesse! Desconfia que entre o seu signo e o dele exista a química real. Perdeu um pouco da razão ou talvez dos sentidos e a certeza de que as nuvens estão ali. Começou a acreditar, que é ela quem, levemente, flutua um pouco.
Havia semanas ela se preparava para o encontro, longos banhos e banhos longos, sempre no mesmo ritual, se enfeitando e perfumando para ele, que mesmo tão longe já estava ali. Saiu de casa livre de todas as expectativas despertadas, já não importava mais, ela sabia quem ele era e o que representava.
Bateu na porta sorrindo de satisfação com a possibilidade real do encontro, depois de tantas mensagens e sinais trocados. Rapidamente a porta se abriu e nada do que foi dito entre eles se comparou à total adequação que sentiram, no momento em que ele a tomou pela mão e conduziu docemente para dentro do quarto. Já no abraço ela percebeu dele um toque suave, mas firme pela maneira como ele, decididamente, posicionou a mão nas suas costas e os seios se colaram no peito dele despertando uma sensação agradável e levemente familiar, logo os olhos se encontram provocando risos e sorrisos, e foi naquele momento que ele a beijou.
No beijo ela superou a duvida, não eram as nuvens que desciam, mas ele quem sabia fazer, ela flutuar entre elas.
2 comentários:
Fernanda cheia de talentos, mil surpresas muitas novidades.
Eu fico aqui de olho.
Que bela surpresa. Suavidade, sensibilidade e sensualidade em palavras.
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