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sábado, 30 de outubro de 2010

Joana, paisagem!

Joana é brasileira, solteira, com vinte e mais um pouco de anos.  Seu berço, a ponta de cima do Brasil. Teve sua coragem acordada pelo desejo de sair daquele lugar seco, rachado, alaranjado. Tinha medo de secar toda, por ali. Naquele lugar tudo parecia desidratado. Joana sofria do pior mal que se pode sofrer quando se está num grupo. A falta absoluta do sentido de pertença. Ela não se reconhecia naquele lugar, não reconhecia o outro, não reconhecia ninguém. Isso explica sua expressão de ausência constante e sua mania de olhar de lado. Seu olhar parece que nada vê e teme olhar de frente, sua voz poucas vezes está liberta e quando a solta é quase inaudivel. Joana foi embora. Abandou tudo e todos dali. Saiu de repente e meio sem avisar. Pro lugar que foi, também nunca soube explicar sua chegada. Ali estava, simplesmente sem o menor esforço de entender. Volta e meia pessoas a olham com estranhamento. Não entendem Joana tão calada e isolada. Ela desejava um sol mais ameno, de calor mais sereno. Sonhava em pintar o rosto e usar sapatos de salto. Pensava em superar a cor de palha dos cabelos e ficar tranquila sobre o futuro da pele. Joana se apropriou de todas as possibilidades pra resolver seu transtorno. Mas ainda carrega a secura de onde veio, transborda a falta, o tempo todo, assim sendo, é muito pouco o que se encontra nela. Joana queria sair daquele lugar, negar sua raiz pra se diferenciar dos seus desgostos. Porém carregou consigo o peso amargo que avaliava com seu olhar ladeado. Hoje vive distante, do seu espaço de origem e também do lugar que agora habita. Ela própia, não raramente é a paisagem que se recusou a olhar de frente.

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