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sexta-feira, 26 de junho de 2009

A LUA de MICHAEL

Devemos não somente nos defender, mas também nos afirmar, e nos afirmar não somente enquanto identidades, mas enquanto força criativa.Michael Foucault
Soube da morte de Michael Jackson pelo portal do Terra.Aquele impacto! Impacto provocado pela impressão que acredito seja coletiva, que não nos permite aceitar a mortalidade dos geniais. Essa impressão e desejo, sobre o que é bom não acaba, é a responsável por muitas das nossas frustrações e começa na infância quando nossos ídolos se desfazem diante de nós. De fato são imortais os portadores de uma vivacidade que não cabe em espaço nenhum. Nem geográfico nem temporal. Gênios transcendem todos os limites e bem particularmente os seus próprios, justamente os limites que são inimagináveis para a maioria da população mundial. Michael foi um gênio na criação da sua expressividade e se utilizou de formas universais para sua expressão, a música e a dança! E elas nunca estavam sozinhas. A musicalidade desse gênio esteve sempre acompanhada de uma performance extraordinária, complexa e nisso tudo, indiscutível. Não se trata de uma questão de preferências ou gosto musical. Quando nos referimos aos geniais, em qualquer uma das expressões da genialidade, não podemos pensar em nossas preferências. Nem pensamos! Apenas nos rendemos diante da magnitude infinita. Como é delicioso ficar admirado pelos bons. Há gênios maus também, esses não despertam em nós a admiração, mas impressionam. Michael tinha performance no palco e fora dele. Penso que ele se fundiu com sua criação, daquela maneira tal, que a criatura supera e consome o próprio criador. E ele virou sua caricatura! Não penso de forma reducionista sobre um ser com sua envergadura, por isso não considero que tenha feito, tudo o que fez consigo mesmo, diante dos nossos olhares, apenas por seu ego e vaidade. Lógico que não! São muitos e mais complexos os componentes que impulsionaram a metamorfose.Componentes indecifráveis.Não há especilaistas para os desejos dos geniais! Há expectadores e muita especulação, somente isso e também por isso, tudo é contestável. Vendo os clipes, todos longos em duração,cada um, um curta metragem de muito alta qualidade cinematográfica, enxergamos uma parafernália de expressões além da música. Dança! Coreografias perfeitas em completa sincronicidade dos dançarinos entre si e com a melodia. Os barulhos dos passos e os sons das forças para executá-los integravam as composições e desenhavam para os olhos enxergarem, aquilo que é abstrato e por isso, não dá pra ver na verdade, o ritmo.Que ritmo! Vivacidade é isso, uma vontade tão grande de dizer que explode e diz com propriedade e de todos os jeitos possíveis e, para os impossíveis, o gênio cria o jeito. Clipes da década de oitenta e com valiosa tecnologia e seus efeitos mega especiais. Dramatização e enredo. Alguns com o bonus das mensagens visionárias e outros com o bonus das mensagens imaginárias. Mas, se fosse show, apenas ele e o palco, não sentíamos nenhuma falta dos acessórios dos clipes. Moon walk assinava seus palcos. Todos os palcos autografados pelos pés flutuantes. Michael flutuava, assim como seu ícone infantil Peter Pan. O que faz de algumas pessoas, seres tão diferentes, inimagináveis, surpreendentes e insubstituíveis? A originalidade. Ser original é ser único e ser único é ser incomparável. Michael foi muito original.Os originais carregam o castigo dos limites intransponíveis por conta da absoluta ausência das limitações próprias. Nós, os encantados, escravizamos cada um deles com nossa expectativa e admiração, e não lhes permitimos mais a paz e nenhuma forma de liberdade. Nada deles é privado, tudo deles é pra nós. É o preço que paga o gênio, ficar preso no holofote. Michael me encantou sempre. Quando criança, e eu mais criança que ele, adorava o desenho pop dos Jacksons Five. Na minha adolescência, assistia MTV e nunca perdia o clipe inédito lançado em rede mundial sendo no Brasil pelo Fantástico. Cada clipe, um show de vida. Mas por incrivel que pareça, a vivacidade esgota.Nunca acaba, mas esgota o corpo que habita. Gênio é OVER até o fim, e criam o fim assim, com alguma overdose.Penso que ele tenha decidido a hora final, afinal o espetáculo sempre esteve sob seu comando, não delegaria esse momento inédito a ninguém, a não ser a ele mesmo. Fica a impressão que foi antes da hora, mas ele vai lidar bem com nosso insaciável desejo de "queremos mais" e nos surpreenderá mais uma vez, porque como todos os geniais...Michael não morreu... eu ficarei olhando a Lua, desconfio que o verei por lá...era seu desejo, ensaiou Moon Walk a vida inteira diante de nós,certamente não foi à toa!

2 comentários:

Anônimo disse...

A Fernanda tem o dom de conseguir escrever o que sentimos e ela sente como se também compartilhasse desses momentos espetaculares que só a arte da dança pode nos dar. Quem já dançou num palco, por menor que seja a importância da apresentação sabe do que estou falando. Parabéns Fernanda! Teu texto é a pura expressão do que Michael passava pra nós, mortais!!!

Leonardo disse...

Achei seu texto muito lindo. Realmente a morte dele pegou todo o mundo de surpresa, mas pessoas como ele jamais morrem, pois estão na mente e no coração dos fãs não é mesmo? A ideia da lua foi boa, vou olhar hoje a noite! :-D Quem sabe ele não dá um tchauzinho? Abraço.