Fui à exposição "Corpo Humano Real e Fascinante", no Barra Shopping Sul. Como companheiras do programa "macabro cultural" minha filha de 5 anos, minha sobrinha de 8 anos e minha cunhada que não interessa a idade. Nunca tive nenhum gosto pelo assunto "anatomia" quando esse é tratado de modo exclusivamente científico. Ainda assim, como boa parte dos visitantes, estive motivada a conferir a exposição desde que foi anunciada. Mais por uma curiosidade mórbida do que pelo gosto científico. E também por já ter ouvido falar na exposição, bem antes dela se anunciar no Brasil e todo o "borborinho" acerca do tema. Recebi um e-mail, certa vez, que falava sobre o alemão Gunther Von Hagens(visite site oficial), conhecido por Doutor Morte. Não é ele o mentor da exposição Corpo Humano Real e Fascinante, mas foi ele o criador da técnica de polimerização dos corpos e o precursor na idéia de colocá-los em exposição. Começa aí o despertar da minha curiosidade. Doutor Morte quando apresentou a idéia de dissecar corpos humanos para expor, ressaltou sua intencionalidade artística. Tratou o assunto como arte.Entendeu os corpos como matéria prima e transformou os cadáveres em manequins.Ressaltou a estética da beleza dilacerada. Transbordou de motivos para que a genialidade inovadora do médico fosse amplamente criticada. Aquilo que ele entendeu como arte, a Igreja entendeu como banalização do corpo morto. Certamente sabendo de toda essa repercussão e reconhecendo a genialidade de seu colega, o Doutor Roy Glover,americano e responsável pela exposição que visitei, usou a técnica do Dr. Morte e basicamente a mesma forma de apresentar os cadáveres em exposição. A diferença entre eles? Roy Glover reverenciou o conhecimento científico. Não lembrou da estética, ficou com a ética. Falou como médico.Pronto! Seus corpos mortos e dilaceradamente esculpidos pela arte médica são os protagonistas de onze exposições que acontecem concomitantemente em diferentes lugares do mundo.Inclusive aqui, em Portinho!
O corpo humano é pra sempre fascinante, mesmo quando morto, aos pedaços e desprovido de suas funções.Particularmente, ainda prefiro inteirinho e bem vestidinho. Algumas vezes peladinho, mas daí sim, completamente inteirinho. Enxerguei mais arte que ciência naquilo tudo.Impressionante o corte, a extração de sistemas inteiros para o isolamento e visibilidade de um único sistema. Uma recriação só possível pela mente de um artista mais a habilidade do médico cientista. Minha filha e minha sobrinha reagiram muito bem diante de tudo. Logicamente não fizeram relações nem tranferência alguma. Os corpos são os corpos da exposição,diferentes dos corpos delas que vivem intensamente.Não se enxergavam ali.Não se identificaram. Minha pequena deixou isso bem claro quando fui aproveitar a visibilidade do intestino e explicar porque ela não pode trancar o tal do cocô...mãe, aquele é de gigante não cabe em mim!Tá bem! Lógico que a anatomia não é o melhor caminho para superar a peculiaridade da minha filha. E de certa forma ambas estão certas nisso. Somos todos iguais e tão diferentes. Pessoas disseram que não era pra idade delas e que ficariam assustadas. Minha cunhada, como eu, em se tratando da educação da filha, ouve mais a si mesma do que o que dizem por aí. Levamos as filhas. Acredito, colaboramos delicadamente para esse novo sujeito que surge. Que estejam eles menos poluídos pelos tabus que faz do entendimento ocidental, sobre a morte, algo tão assombroso.
Uma coisa, especialmente, chamou a atenção em todos os corpos. A fisionomia. Parece estranho mas ela estava presente em todos eles. Por mais que tivessem tirado, deslocado, poliamirizado tudo nos sujeitos, ainda havia algo de pessoal em cada um e uma sútil semelhança entre eles. Comentei isso com minha cunhada. A semelhança! Ela riu. Cheguei em casa e fui pesquisar. Eu e as questões da identidade. Queria saber se descobria quem eram elas, as esculturas cadáveres. De fato, são mesmo parecidos como avaliei. São da República da China. Há quem diga que foram prisioneiros criminosos. Há quem diga que são pessoas que doaram seus corpos para o projeto. Sinceramente, o primeiro dito, soa mais verdadeiro. Ainda mais se tratando da China. Somente pela recriação artística um chinês fica de olho azul e arregalado.Destoante da escultura aquele olhar de vidro! Fica o registro blogado. Vale conferir pela possibilidade de olhar-se por dentro, de um modo que somente os médicos puderam até agora. Vale a didática da apresentação, tudo em blocos separados, minimizando a complexidade do sistema que de fato é o corpo inteiro.Vimos algumas vezes em alguns vidros de museu de ciências e muitas vezes em cera, plástico ou gesso. O real e poliamirizado é diferente, tem cor, tem brilho e não tem cheiro. Vai lá, mesmo que seja pra concluir o mesmo que eu e minha cunhada: não veremos a segunda vez. As meninas? Podem levar as suas ou os seus. Elas já estavam correndo na frente, ambas a fim de um delicioso sorvete...nada nos humanos polirimizados, nem no clima sinistro da exposição, conseguiu despertar um "nojinho repulsivo" como lembro, acontecia com as crias do tempo em que eu também era cria. Viva os sentidos bem vivos, que saboreiam, que cheiram, que enxergam, que sentem, que ouvem e que imaginam o inimaginável. Crianças fazem isso o tempo todo, imaginar o inimaginável e alguns adultos, meio geniais, fazem às vezes e, quando os demais adultos permitem, mostram em suas exposições e quase não percebe-se que estão limitados por "éticas e estéticas". As fotos não são minhas, é proibido fotografar a exposição. Mas, os jornalistas puderam, então capturei algumas de outros blogs, mas não há créditos em nenhuma delas. E se você, como eu, ficou se perguntando um monte de coisas sobre o que viu, clica nesse link deve ter algumas das respostas.
Um comentário:
Adorei! Tu realmente surpreende com as palavras...tudo devidamente traduzido!Pena a gente não poder registrar nossas curiosidades e descobertas...mas valeu a pesquisa: bem esclarecedora!!!!!!!!!! bjs
Postar um comentário